sábado, 25 de fevereiro de 2012

NO SILENCIO




Um quarto, uma ténue luz a espessa sombra desafiava.
Sussurros rasgavam a quietude da noite, falsos queixumes!
Corpos nus fundidos serpenteavam sob o lençol, que ondulava,
O ranger da madeira, movimentos sinuosos, peculiares perfume.

Primeiro, gemidos, juras, lábios humedecidos, grito reprimido,
Olhos cerrados, lábios colados, corpos arqueados, sentidos alterados.
O gozo, único objectivo buscado, toques ousados, abraço premido.
Um inenarrável frenesi, o êxtase, por fim ao etéreo projectado.

Depois, o cansaço, corpos suados, relaxados, prémio merecido!
Dois corpos tão descaradamente colados, desavergonhados,
Diálogos desconexos, sem sentido, membro ainda enrijecido,
Fêmea satisfeita, macho sonolento, felizes, desejos aplacados.
Ela:
Nada ainda me disseste, o abandono me frustrou!
Me trouxe sofrimento e dor, meu coração levaste contigo
E a outro não pude, me entregar com amor. Nada me sobrou.
Apesar desta noite, não sei se te perdoar consigo.
Eu:
(Com tom plangente, choroso, quase um sopro): - lamento!
Rodei mundo, provei muitas mulheres, deitei em muitas camas,
Só frustração! Se não tenho a ti, com outra não me contento.
Senti a falta de teu gosto, teu cheiro. Também sofri e ainda reclamas.
Ela:
Passei mil noites aqui, engolida pela escuridão deste quarto,
Nas sombras das horas caladas, os céus ora enegrecidos, ora estrelejados,
Perdoe-me se me confesso, se meus sofrimentos contigo repartem.
Mas tudo que me fizeste passar, todas as mágoas, estão aqui engasgados.
Eu:
Deixaste alguém, mesmo que só em pensamento, o teu templo profanar?
Sei que não me guardei como deveria, mas entrego na bandeja o meu coração.
Também sei que sofreste, sei bem, não tenho direito algum que reclamar,
À noite, observava a lua, a mesma que te iluminava, que emoldurava a tua solidão.
Ela:
Quando tomada de desejo, sentia tua presença, puro instinto.
Pensava que o caminho de volta fazia, e em breve teu corpo sentiria.
Estremecia-me, sem remédio, ao prazer solitário me entregava. Culpa não sente.
Tuas lembranças eram o meu regaço, é a pura verdade, não te mentiria.
Vivi na clausura, como uma freira a se entregar na eterna prisão,
Meus pensamentos te buscavam por este mundo, era tudo em vão.
Vivi de ilusão.
Eu:
Solidão, dor, também as vivi, minhas noites foram que nem as tuas,
O encanto logo terminou, a luz da ribalta pouco luzia,
Minhas noites de solidão, eram negras, vivia a vaguear pelas ruas,
Se prazeres eu tive, foram fugazes. Foi só tormento uma vida vazia.

Ela Adormeceu como um anjo, suspirando, com um leve sorriso.
Fustigou-me a beijá-la, de leve, nos lábios rosados, macios, me contive.
Jamais a nenhuma aventura me entregarei. Regenerar-me é preciso.
A felicidade até hoje não alcançou, mas descobri que ela é tudo que hoje tive.

Produzido por ; ARMANDO JORGE SILVA MARQUES



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